Nas últimas décadas, tem havido, como sabemos, um crescimento dos evangélicos em nosso país, ao ponto de eles representarem hoje, de acordo com as mais recentes estimativas (como a do Datafolha em 2020), 31% da população brasileira, o que daria hoje mais de 65 milhões de pessoas. Só esse fato já é suficiente para evidenciar o peso do voto evangélico em quaisquer pleitos eleitorais no Brasil, dado que é ressaltado todo ano de eleições pelos especialistas. Entretanto, um outro dado torna mais contundente ainda o peso do voto evangélico: o fato de que, devido ao crescente número de abstenções em nossas eleições nos últimos anos e ao simultâneo crescimento do engajamento dos evangélicos na mobilização para ir às urnas, estes podem representar nas eleições deste ano – segundo cálculos de especialistas – cerca de 40% dos votos válidos.
Em outras palavras, não apenas na teoria, mas na prática, o voto evangélico decide as eleições. Ele não apenas contribui, como sempre fez até alguns anos atrás; ele está agora decidindo mesmo, já que não há nenhum segmento da sociedade brasileira nos campos religioso ou ideológico que tenha hoje mais representatividade com engajamento na ida às urnas do que o voto evangélico. O número de votos dos que se consideram católicos ainda é maior, mas, além de ser hoje por uma diferença menor, é fato que a fé católica da maioria dos católicos brasileiros não é fator de engajamento político, diferentemente do que se vê no caso da fé evangélica no Brasil. Não se pode dizer, no caso da maioria dos católicos, que a sua fé é o que normalmente define seu voto, mas, no caso dos evangélicos, é o que costuma acontecer na maioria esmagadora dos casos: a fé do evangélico costuma guiar seu voto.
No segundo turno das eleições presidenciais de 2018, de acordo com um levantamento do Instituto Datafolha a três dias do pleito no segundo turno daquele ano e um estudo publicado logo após a votação do segundo turno, foi o voto evangélico que definiu a eleição de quatro anos atrás. O estudo em questão foi publicado pela revista eletrônica EcoDebate em 31 de outubro de 2018 e é de autoria do professor José Eustáquio Diniz Alves, doutor em Demografia e professor titular do Mestrado e do Doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE).
No referido estudo, o professor José Eustáquio explica que, em 2018, “Bolsonaro ganhou de pouco entre os católicos – houve praticamente um empate – e também ganhou entre os espíritas e as outras religiões, mas sem uma diferença tão significativa no montante de votos. Haddad ganhou entre as religiões afro-brasileiras, entre as pessoas que se autodeclaram sem religião e entre os ateus e agnósticos, mas também sem uma diferença tão significativa no montante de votos. O que fez a diferença foi o peso do voto evangélico, pois a estimativa indica que Bolsonaro teve mais de 11 milhões de votos a mais do que Haddad no eleitorado evangélico, em todas as suas múltiplas denominações”.
O detalhe é que a diferença de votos entre Bolsonaro e Haddad no resultado final do segundo turno de 2018 foi de 10,76 milhões de votos. Ora, se a diferença foi essa e Bolsonaro teve 11,6 milhões de votos a mais do que Haddad entre os evangélicos no segundo turno, isso significa dizer que os votos que fizeram a diferença vieram dos evangélicos.“Sem dúvida, a diferença positiva que Bolsonaro obteve entre o eleitorado evangélico foi suficiente para compensar as derrotas entre as religiões afro-brasileiras, os sem religião e os ateus e agnósticos. Os 11,6 milhões de votos que Bolsonaro obteve a mais do que Haddad entre os evangélicos foi um pouco maior que a diferença total registrada entre os dois candidatos no resultado final. Assim, não há dúvida de que o voto evangélico foi fundamental para a eleição de Jair Bolsonaro. Mesmo sendo menos de um terço do eleitorado, as lideranças evangélicas são muito atuantes na política e estão colhendo o resultado de anos de ativismo religioso na sociedade”, assevera o professor José Eustáquio em seu estudo.
Segundo o estudo, os evangélicos representaram cerca de 31,6 milhões dos votos válidos no segundo turno da eleição presidencial de 2018, ou seja, 31,5%. Neste ano, porém, acredita-se que esse número pode ser maior. Fala-se de até 40% dos votos válidos.
Outro ponto importante é que as abstenções podem também definir a eleição deste ano. O candidato que mais mobilizar as pessoas indecisas a irem às urnas votarem nele deverá ganhar o pleito, que se encontra apertado.
Essa informação aumenta a responsabilidade que o eleitor evangélico tem em suas mãos de decidir os destinos políticos do seu país. Sabemos que Deus controla a história, mas Deus também dá a Seus filhos alguma margem, dentro dos Seus planos perfeitos, de contribuir para o avanço ou para o retrocesso do país onde eles vivem. E no caso dos evangélicos brasileiros, essa margem é grande. Claro que eleger o melhor candidato entre as opções oferecidas não é garantia de melhora de tudo, mas já ajuda em muita coisa. E no que os homens não podem resolver, Deus age, se orarmos e fizermos a nossa missão de levar o Evangelho a toda criatura. Nossa nação precisa sobretudo de Jesus, de vidas convertidas pelo poder do Evangelho de Cristo.
Em suma, oremos pelo nosso país, mas também façamos a nossa parte, não só pregando o Evangelho de Cristo – que é o principal – mas também exercendo a nossa cidadania com responsabilidade e sabedoria, segundo os princípios do Evangelho.