Polícia Federal investiga grupo suspeito de realizar um esquema de doutrinação religiosa e tráfico humano em Manaus. Segundo a investigação, jovens e crianças da região indígena de São Gabriel da Cachoeira receberam a promessa de estudos na Turquia com tudo pago, pela Associação Solidária Humanitária do Amazonas (Asham). Antes de viajarem para o exterior, os estudantes recebiam lições de árabe e turco e estudavam o Alcorão.
No início deste mês de julho, cinco rapazes participantes do programa de intercâmbio estudantil, foram deportados da Turquia, após ficaram três semanas detidos em Istambul, por não terem visto de permanência. Os estudantes foram liberados para embarcarem de volta para o Brasil com o turco Abdulhakim Tokdemir, apontado como líder da Asham, que chegou ao Amazonas em 2019.
O jovem de 18 anos, Edilberto Domingas Dias Brito Júnior, da etnia Tukano, compartilhou ao programa de televisão “O Fantástico”, que estudou as lições do programa oferecido pela associação muçulmana, mas não chegou a sair do país.
“A gente ajoelhava, a gente reverenciava. Levantava e fazia em sequência, tinha uma sequência. Três vezes a gente fazia. A gente parava, a gente rezava de novo. Aí, a gente continuava. [Reverenciava] a Alá. Que é o deus deles”, contou Edilberto, que também afirmou que as aulas de religião não eram obrigatórias.
O programa intercambista abrangia a primeira etapa de estudos ainda em São Gabriel da Cachoeira, localizada no alto Rio Negro, Amazonas. A cidade em questãos possui o maior número de indígenas do Brasil, formadas por 23 etnias, com cinco famílias linguísticas: Tukano oriental, Aruak, Yanomami, Japurá-uaupés e Tupi.
Na etapa seguinte, parte dos jovens indígenas se mudava para um imóvel em São Paulo e depois seguiam para a viagem no exterior.
O superintendente da Polícia Federal no Amazonas, Umberto Ramos, destacou que esses jovens e crianças indígenas vivem em situação de vulnerabilidade e isso as tornam presas fáceis para as organizações criminosas que atuam na região.
“A apresentação era feita como uma proposta de estudo na Turquia, a fim de que aqueles indígenas tivessem a possibilidade de se tornarem médicos, advogados, teólogos, engenheiros, quando, na verdade, o processo era de servidão, de imposição religiosa, de doutrinação. Atribuição de um nome diferente, com o impedimento de se mencionar o nome anterior”, contou Ramos.
As reais atividades exercidas por esses jovens na Turquia, estão sendo investigadas pela Polícia Federal.
Abdulhakim Tokdemir teve seu passaporte, computador e celular apreendidos pela PF-AM, assim que voltou ao Brasil. O apontado como líder da Asham, também teve quebra do seu sigilo fiscal e bancário. De acordo com as informações, a polícia também suspeita de outras sete pessoas, entre turcos e brasileiros, no envolvimento em um esquema de doutrinação religiosa e tráfico humano.
A Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras), por meio de seu vice-presidente Ali Hussein El Zoghbi, afirmou não conhecer a Associação Solidária Humanitária do Amazonas nem o trabalho que ela desempenha.
“Eu diria que 99% das entidades islâmicas ou têm parceria conosco ou estão associadas à nossa entidade. (…) Se essa abordagem foi feita no sentido de imposição, de coação, de coerção, ela é totalmente contrária a um princípio basilar do Islã(…) E me causou mais preocupação ainda tratar-se de crianças”, disse o vice-presidente da Fambras, criticando suposta abordagem.
Com informações G1/ O Fantástico