Na última quarta-feira, 12 de fevereiro, os premiados jornalistas investigativos norte-americanos Michael Shellemberger, do Public, e Matt Taibbi, do Racket News, testemunharam em Washington DC perante o Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos. O assunto tratado foi “o Complexo Industrial de Censura” e, na ocasião, o Brasil foi mencionado como um dos exemplos desse complexo montado em várias partes do mundo com o apoio financeiro do governo norte-americano durante a gestão presidencial de Joe Biden.
Tanto Shellemberger quanto Taibbi foram filiados até pouco tempo ao Partido Democrata, rompendo com ele após a radicalização política “woke” e pró-censura que se deu dentro do partido nos últimos anos. Hoje, ambos se autodenominam “independentes”. Shellemberger, 53 anos, chegou a ser candidato ao governo da Califórnia pelo Partido Democrata em 2018. Taibbi, 54, começou como jornalista na antiga União Soviética, onde colaborava com matérias para a Associated Press. Depois, já nos EUA, foi coeditor da revista Rolling Stone e colaborador em vários jornais e revistas – dentre eles a progressista The Nation –, e em programas jornalísticos de tevê, como os do canal MSNBC.
Em seu depoimento ao Comitê na quarta-feira, Shellemberger citou diretamente o Brasil. “Há quase dois anos, testemunhei e forneci evidências a um Subcomitê deste Comitê sobre a existência de um Complexo Industrial de Censura, uma rede de agências governamentais, incluindo o Departamento de Segurança Interna, contratantes do governo, incluindo o Observatório da Internet de Stanford, e plataformas de mídia social de grandes tecnologias que conspiraram para censurar americanos comuns e autoridades eleitas por terem opiniões desfavoráveis. […] A mais recente é a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional, ou USAID. Em outubro passado, publicamos um relatório que observou que a USAID havia financiado a criação de um Complexo Industrial de Censura no Brasil, completo com ‘verificadores de fatos’ terceirizados, comitês de especialistas encarregados de decidir para toda a sociedade qual é a verdade sobre qualquer questão específica. E, depois que publiquei os Arquivos do Twitter Brasil, na primavera passada, o Procurador-Geral do Brasil abriu uma investigação criminal formal sobre mim, que está em andamento”, informou Shellemberger.
O jornalista concluiu seu depoimento afirmando que “os funcionários e contratados do governo [dos EUA] que se envolveram em operações de informação e defesa da censura na última década têm se concentrado esmagadoramente em silenciar populistas. Isso é tão verdadeiro nos Estados Unidos quanto na Europa e no Brasil. Dois anos atrás, descrevi as razões para isso. Desde então, nossa compreensão do desenvolvimento do Complexo Industrial da Censura nos últimos dois anos se aprofundou”.
Por sua vez, Taibbi destacou o forte movimento do Partido Democrata em direção à censura nos últimos anos. “Dois anos atrás, quando Michael e eu testemunhamos pela primeira vez diante de sua subcomissão de armamento do governo, os membros democratas nos chamaram de supostos jornalistas, sugeriram que fomos comprados por escribas e questionaram nossa ética e lealdade. Quando tentamos responder, nos mandaram calar a boca e tirar nossos chapéus de papel-alumínio, e nos lembrar de duas coisas: ‘Um, não há censura digital; e dois, se há censura digital, é para o nosso próprio bem’. Fiquei chocado. Pensei que a coisa toda era um erro. Não havia como o partido em que votei a vida inteira ser agora pró-censura. Então, ano passado, ouvi John Kerry [ex-candidato à Presidência pelo Partido Democrata], em quem votei, falar no Fórum Econômico Mundial. Ele disse: ‘Nossa primeira emenda é um grande obstáculo’. Ele reclamou que é muito difícil governar porque as pessoas escolhem onde vão para obter suas notícias, o que torna ‘muito mais difícil construir consenso’”.
“Agora, eu defendi John Kerry quando as pessoas disseram que ele parecia francês, mas Maria Antonieta ficaria envergonhada com esse discurso. Ele estava essencialmente reclamando que os camponeses estão selecionando suas próprias fontes de mídia. O que vem depois? Deixar que eles decidam por si mesmos? Por fim, construir consenso pode ser o trabalho de um político, mas não é meu como cidadão ou jornalista. Na verdade, dificultar o governo é exatamente o trabalho da mídia. A falha em entender isso é o motivo pelo qual temos um problema de censura”, asseverou Taibbi.
A referida sessão no Comitê Judiciário da Câmara dos Estados Unidos, com o depoimento completo de Shellemberger e Taibbi, pode ser assistida na íntegra pelo YouTube clicando AQUI.
Redação CPAD / Fonte: Townhall.com